domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 21


Muito do diferente tem estado presente em minha vida. Já senti ausência em mim. Também já experimentei uma poluição extrema, comprimindo minha respiração e meu descanso. O que tenho em mim, ontem e hoje, são faces de alguns desenredos e fases de infinitos murmurantes e tão particulares quanto compartilhados. Não sei tanto sobre medos, mas sinto muitos de uma só vez. Estaria em outro lugar se não tivesse os pés perdidos e a resiliência tão frágil? Sei que não e, de fato, eu não quereria outra moldura. Fico com as minhas escolhas, ainda que mornas, flutuantes, impulsivas, soluçantes. Fico comigo, dessa vez, ao invés de me abandonar. A ausência que, por ventura, possa me povoar, me será muito agradável. Faço a troca e despacho tudo o que é capaz de me sufocar. O que existe de impossível é que me mantém pulsante – talvez hoje eu não deseje nem um pouco de possível. A minha liberdade é vigiada por todas essas escolhas de que falo aqui. São pílulas que me transtornam, drops que me adocicam, gomas que me regulam a marcha do pensamento. Hoje eu não quero pensar em me deixar. O meu desenredo está sob os trilhos dos meus encantos. Os murmúrios estão pontilhados do inesperado. O inadequado me toca intimamente e o indeterminado determina o tempo inteiro. Minhas saudades e meu cansaço se dissipam suaves na companhia cortante de uma solidão – essa que agora é meu fascínio, essa que agora é meu delírio, poluente do meu vazio, pertencente ao meu desejo.


(Em 03 de outubro de 2010)

Um comentário:

  1. Viver o diferente é ganhar experiências. Boa caminhada. Abraços.

    Quero aproveitar e lhe convidar para ler “Para o final a contemplação” no meu http://jefhcardoso.blogspot.com
    Será um prazer lhe receber.

    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

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