domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 18


Durante muito tempo acreditei que jamais aceitaria grandes mudanças novamente. Mudanças de espaço e de ar. Mudanças de rota e de teto. Mudanças mundanas e nem tão profanas. Não sei por quanto tempo tudo isso será estranheza. Não sei, na verdade, nenhuma certeza. Mas temo que o medo possa engolir meu verso, meu canto, meu gosto. Ainda preciso me encontrar, aceitar meu pranto, entender meu sopro, digerir minha sede. Eu não me sinto suportável, nem conheço meus contornos. Até acho que eu ensaio a minha cegueira... porque me perco do meu rosto tão facilmente quanto o sangue que escorreu da mão de Leo ontem à noite – enquanto ele lavava uma lâmina afiada, displicentemente, em sua face mais perigosa. E sem perguntar “cara ou coroa?”, eu aposto comigo mesma que a perda do tino é o melhor encanto. Eu não quero nada além da correria insana dos dias, e que eu os possa aproveitar, como se estivesse indiciada e, finalmente, condenada a viver feliz.

- Moro em uma kitnete a 80m da Unicamp. Durmo em lençóis vermelhos. Fumo meus cigarros do outro lado da janela. Cozinho macarrão com salsichas. Leio e escrevo mesmo sem querer, sem tentar, sem conseguir. Estou bem. Me sinto quem.


(Em 01 de agosto de 2010)

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