terça-feira, 10 de abril de 2012

Preparar-se como aula


Certa vez um amigo que pretendia aventurar-se como professor me perguntou como eu preparo minhas aulas. Eis que eu não soube, prontamente, respondê-lo. Pres-Senti que ele me pedia um receituário, uma espécie de passo-a-passo que o tranquilizasse em relação a essa prática. Mas tranquilidade é o que menos há nessa tarefa. E reflito com felicidade a esse respeito. Pois... eu não preparo as minhas aulas. Eu me preparo inteira como aula. Medito, penso, problematizo o dia. Aprofundo, escavo, rabisco a noite. E encontro os encontros. De corpo, alma e inteireza. Por vezes vejo e sinto cansaço, desânimo, conformidade, opacidade. Então é quando se faz urgente colorir, (re)criar, fazer sorrir. Funciona! - eu disse ao meu amigo. E a mim mesma. Em verdade, precisa funcionar. Como uma usina, uma máquina desejante de fluxos vários, tão heterogêneos quanto fugitivos em suas linhas des-conectantes. E sobre essa funcionalidade toda, não existe outro afeto que se ponha como cereja a não ser a alegria. Não uma alegria alegre, mas uma que seja efetuadora intensa de potência. Uma alegria que, mesmo triste, saiba ser da ordem da invenção, com a cor singular da ética. Assim eu me preparo inteira como aula, esperando ser uma aula sem relação direta com a dualidade ensinar-aprender, mas com um conjunto psicofísico de intensidades e forças, com potência de corpo e alma para agir e pensar. E porque eu acredito nessa forma de educação e alimento esses nós de pensamento, me ponho disposta aos feixes de afetos que provem dos meus encontros, em salas de aula que ultrapassam paredes e transpassam janelas, essas e aquelas das subjetividades.