domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 6


Estive pensando como as nossas memórias são os constructos mais favoráveis aos movimentos de transformação e vida que temos. São como adubo ou chuva ou um novo abraço. Pelos três últimos dias tive provas reais disso tudo. Momentos vividos que são revividos tomam novas cores e ganham outra trilha sonora, deixando o passado com jeito daqueles presentes com embrulho e laçarote adoráveis! Caminhei com minha mãe voltando do dentista (já não trago mais no sorriso os metais apertados que ajeitavam meus dentes superiores) e o calor que incomodava tanto não foi tão difícil de suportar. E menos ainda aporrinhou quando paramos na esquina conhecidíssima onde se pode comer pastel de queijo com caldo de cana gelado. Me lembrei de ter sentado ali quando ainda nem era alfabetizada. Minha mãe olhou prá mim enquanto eu saboreava o pastel frito, gorduroso e delicioso e mandou essa: “...o mesmo pastel e as mesmas bochechas... e também a mesma franjinha nos cabelos...”. Eu sou mesmo as minhas verdades de criança... irremediavelmente. No dia que se seguiu, me sentei com Purki por algumas horas pensando em organizar as coisas do trabalho, quando, de repente, o assunto clicou o “rew” do controle remoto das lembranças e voltou até quando éramos tão diferentes que nem parecíamos com o que somos agora. Mas o agora fez o que passou se tornar bem leve, muito mais do que havia sido. Teóricos e filósofos, fotografias e pensamentos, convivências e documentos... estávamos os dois sem complicar nada do que fora tão difícil ontem. E por falar em ontem, a formatura de Breno me preencheu tanto a alma por ali, no meio dos amigos passados, que não pude não perceber que nada estava vencido ou estragado ou perdido. Um novo tempo sempre traz consigo uma nova luta prá fazer o que foi bom sobreviver. Eu vou ter muitas heranças... muitas! A fadiga de tudo nem conseguiu nos rondar... eu não precisei de socorro algum... de analgésico prá cólica ou de muita companhia prá dançar. Havia, prá mim, um som que batia junto com o do DJ: o do meu coração... feliz, feliz...! Agora quero descansar e deixar pousar com carinho esses sinais, assim, bem simples.


(Em 17 de janeiro de 2010)

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