terça-feira, 22 de maio de 2012

Sobre pensamento e liberdade


O terapeuta (1941) - René Magritte

É preciso colocar a existência como um problema na medida em que a existência não é um dado natural – e nem sobrenatural. A natureza é a potência de criar realidade. Se nós fazemos parte da própria natureza cuja natureza é criar realidade, nós também somos parte dessa potência que cria realidade. Essa realidade não só diz respeito ao mundo no qual existimos ou as relações dos homens entre os outros homens e com a natureza, mas diz respeito ao encontro do homem consigo próprio, criando a sua própria natureza como potência. Além disso, devemos crer no acontecimento, no ato de existir. É preciso extrair da existência aquilo que ela tem de necessário, aquilo que o acontecimento tem como potência eterna de criação de realidade. O que nós fazemos com aquilo que nos acontece? Nós investimos no poder ou na potência? Em um corpo organizado ou um corpo de intensidade? É nesse ponto que se decide pela moral ou pela ética. 

Essa fadiga que o mundo hoje nos proporciona com tanta violência exige que pensemos novas formas de vida. A obtenção da liberdade diz respeito à articulação com o pensamento. Precisamos entender que o poder nos separa do que podemos enquanto sujeitos livres. Quando falamos em liberdade, falamos em pensamento. O pensar como ser e o ser como agir. O pensar como dobrar-se, através das forças interiores sobre as capturas que vem da normatividade dos poderes. É preciso fazer novas formas de vida e novas linhas de percurso, novas essências e, sempre, bons encontros. É preciso nos movimentar! É preciso transformar os nossos olhares sobre tudo... assim se faz possível que esse tudo também seja, consequentemente, transformado – porque quando você muda o modo de observar as coisas, as coisas que você observa, naturalmente, mudam! É preciso pensar para ver diferente! Ver diferente para mudar e fazer das nossas singularidades uma coincidência com o que nos é comum!