domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 17


Estive em lugar de origem. Um lugar da minha memória. Foi revigorante, mas dilacerador. Não me sinto pronta para as perdas, tive certeza. Também não me sinto tão apta para ganhos. Sofro de uma síndrome metabólica emocional e tenho dificuldades para digestão de momentos, encontros, passagens, estações e, inclusive, olhares. Principalmente os oblíquos. E os “gordos”. Minhas impressões se confundem com certezas e não alcanço disfarces possíveis para os desconsertos. Tenho voltado à minha fase rock’n’roll e até retirei os coturnos pretos de couro velho do armário. Tenho falado palavrões e sido agressiva. Tenho me defendido. O doce anjo das memórias alheias se transveste em rebeldia, mais uma vez. Agora, sem meias coloridas. Os cabelos estão mais compridos e desconexos. Me caem bem, acho. Não gosto de referências. Meu nome não me soa bem. Meu exemplo, também não. Menos ainda os modos como traduzem minha (falta) de compostura ou “irreverência” – como ouvi dia desses aí. A minha vontade de ser fullgas, evaporante, fluida, microscópica está em alta, altíssima. As conveniências me irritam. As inconveniências ainda mais. Não sou alguém recomendável para se procurar quando se deseja um sorriso. Sou quem busca o mundo dos silêncios e da extinção dos olhares oblíquos. Quero um fim e um início. Do meio me abstenho e durmo. Sem pernas, nem braços. Sem corpo. Só de alma, verde como quem precisa crescer, mas como quem só sabe sentir. Quero ser clorofila.


(Em 29 de maio de 2010)

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