domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 5


Escrevo essa goma ganhando um cafuné. Estou sentada no chão da nova sala de TV da minha casa, ainda bagunçada, onde nunca nada quase funcionou desde que uma tia, que aqui dormia, morreu, há nove anos. Esse quarto se tornou uma espécie de guarda trecos... trecos, devo dizer, muito valiosos: livros, fotografias antigas, instrumentos musicais – o violino que era de João, o teclado que ganhei de mamãe quando comecei a reger um coral, o violão antes básico e que meu namorado regulou – além de bonecas que têm a minha idade e com as quais ainda não consigo exercitar o desapego. Roda um filme aqui no Cine Sky – o “Watchmen”, com super heróis aposentados e estranhos. Até tem um tal de Rorschach, estrela do tipo maluco que salva, claro, mas também mata. Os psicólogos de plantão podem imaginar porque ele tem esse codinome... Ele usa uma máscara que simula o psicodiagnóstico projetivo de Hermann Rorschach, com os clássicos borrões de tinta, se movendo no rosto assustadoramente. Meu sonho ter uma dessas! U-lá-lá! Há uma cena em que ele é preso e um psicólogo forense tenta aplicar sabe o quê? Ahhhh, o Rorschach... Imaginem só se isso ia dar certo? Que dó! Também tem, nesse filme, uma mulher linda, heroína, com um cabelão maravilhoso. O poder dela, com certeza, está aí, no jeito Sansão... Dá p’rá acreditar que o Nixon proibiu a atuação dos heróis? Que filme mais bestão... Mas é bonito, preciso assumir meu gosto...

Bem, mudo de assunto agora... O cafuné ainda está de pé. Leo continua concentrado no filme. Eu, na goma. Acho que não tenho mais o mesmo bumbum dos meus 15 anos p’rá ficar tanto tempo sentada no chão e ainda permanecer animadinha... Mexo p’rá lá, me conserto p’rá cá... Penso no cigarro que está na outra sala. Mas só de imaginar o movimento de dobrar joelhos, carregar o notebook e etc e tal, desisto. Vou aproveitar o lance e fazer redução de danos assim.

Amanhã volto a trabalhar. Oficialmente. Eu queria tanto ter férias! Como nos tempos em que eu assistia a todas as sessões da tarde, mesmo as repetidas, e me cansava de tanto descansar... Que saudade! Tudo bem. Eu cresci. Cresci? Cresci, certo? É... cresci. Mesmo que eu ainda admire cores bem coloridas, formas divertidas, histórias encantadas, ursos de pelúcia, meias listradas e sandálias de plástico. Acho que só sei viver assim... Vou além dessa incerteza quase certa... Só quero viver se for com as minhas verdades de criança... as minhas verdades dessa minha criança.


(Em 13 de janeiro de 2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário