domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 8


Por muito tempo me julguei menor. De tão menor, valsando uma valsa triste, sempre adorei prefixos de baixa auto-estima, me compondo incapaz, insensata, infeliz. Morrer um pouco a cada dia nunca me fez renascer. Eu quis, até então, gostar da vida sem sentir dor, ainda sabendo que essa receita não surte efeito prá um dia poder dizer que se foi feliz. Tenho mesmo o maior medo da derrota. Assim me nego e suplico desistir logo, rápido, antes que seja tarde... Hoje, ao menos hoje, pensei em me contrariar. Conversei por mais de meia hora com meu orientador de mestrado e mais recente amigo em potencial conquistado junto com a aprovação na universidade. E não foi o que chegou aos meus ouvidos, mas o que neles se acomodou, ressoando, martelando, mastigando – como essa goma – novos rompimentos, prá conseguir alimentar travessuras. Eu preciso disso, e como! E me decidi pela gostosura de tentar. Tive um bom fim de semana, com abraços cheios de saudades, no tal casório de que tanto falei nas últimas composições postadas aqui. Me vesti com estampa de cobra, com sapatos altos – que me deixaram calos, usei batom vermelho e gostei do que o espelho me disse (e o namorado também!). Senti falta de Marco no meio de tudo e me cansei um pouco dos saltos. Babei pela beleza da noiva e o sorriso enorme do noivo. Ganhei um adereço prá cabeça, com chifres luminosos de capeta. Quis pular na piscina por sobre as rosas brancas flutuantes da decoração. No fim, os maiores desejos foram massagem, banho quente e um pouco de chá, com o coração contente e a barriga decadente. Ainda sobrou insônia prá assistir TV e fumar mais um cigarro antes de me deitar. Os dias que se seguiram trouxeram pontadas de reflexão, com culminância hoje, depois do telefonema dito aí em cima. Enfim, dobrei a esquina da sala e cheguei ali, de onde vejo, daqui, os aparelhos de ginástica. E deu certo! Foi o começo de mais um recomeço, dessa vez com promessa de êxito. Apareceu um filhote de gato na escada de fora. Tem uma sinfonia de latidos, sem sincronia, de quatro focinhos nervosos. Como não podia ser diferente, minha mãe levou ração prá o felino, com dó e chamego. Essas doações aí, por enquanto, estou dispensando. Preciso e quero ficar só... bem e só. Sei que “sempre não é todo dia”.


(Em 31 de janeiro de 2010)

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