domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 13

Alguém vende reticências por aí? Simplesmente eu as vanglorio e as minhas estão escassas... Ah, quer dizer então que é chegada a hora dos pontos finais? Não, não... prá mim esses não tem tanta funcionalidade quando o assunto é pensar, pensar, pensar, até secar de tanto calor na sanidade... “(...) minha alegria é triste (...)”... E a tristeza tem mesmo vindo me ver, como cantou Bethânia ontem aqui em minha radiola... Até me sentei à mesa da cozinha prá brindar com ela a nossa parceria... Tomamos um vinho branco e seco, remexendo juntas um molho de macarronada cheio de manjericão, em silêncio, claro, como bem fazem os filhos da melancolia. Em Nova Iorque o acúmulo de lixo mais extraordinário é de livros usados, esquecidos, deixados prá trás. Em mim, esse acúmulo mais denso é o de proezas poéticas não realizadas. Ontem mudei o piano de posição. Só assim consigo tocá-lo... empurrando-o prá lá e prá cá e limpando a poeira, sem sonoridade. Quanto desperdício, diria quem me ama! O quê? O primeiro volume de “Alice no país das maravilhas”no meio do lixo novaiorquino ou os meus dedos estáticos com as poloneses de Chopin gaguejantes? Não sei mais... nem tocar com primazia e nem apreciar tudo o que tenho com alegria. Tudo bem, deixa estar, afinal, a tristeza não vem todos os dias prá uma visita... Mas sai que preciso ao menos de seus sinais, mesmo distantes, prá que não me faltem as reticências nessa alma de Oxum, ora revolta ora serena, camuflada e espelhante, meio rasa e um tanto profunda.


(Em 22 de março de 2010)

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