domingo, 3 de outubro de 2010

Goma 21


Muito do diferente tem estado presente em minha vida. Já senti ausência em mim. Também já experimentei uma poluição extrema, comprimindo minha respiração e meu descanso. O que tenho em mim, ontem e hoje, são faces de alguns desenredos e fases de infinitos murmurantes e tão particulares quanto compartilhados. Não sei tanto sobre medos, mas sinto muitos de uma só vez. Estaria em outro lugar se não tivesse os pés perdidos e a resiliência tão frágil? Sei que não e, de fato, eu não quereria outra moldura. Fico com as minhas escolhas, ainda que mornas, flutuantes, impulsivas, soluçantes. Fico comigo, dessa vez, ao invés de me abandonar. A ausência que, por ventura, possa me povoar, me será muito agradável. Faço a troca e despacho tudo o que é capaz de me sufocar. O que existe de impossível é que me mantém pulsante – talvez hoje eu não deseje nem um pouco de possível. A minha liberdade é vigiada por todas essas escolhas de que falo aqui. São pílulas que me transtornam, drops que me adocicam, gomas que me regulam a marcha do pensamento. Hoje eu não quero pensar em me deixar. O meu desenredo está sob os trilhos dos meus encantos. Os murmúrios estão pontilhados do inesperado. O inadequado me toca intimamente e o indeterminado determina o tempo inteiro. Minhas saudades e meu cansaço se dissipam suaves na companhia cortante de uma solidão – essa que agora é meu fascínio, essa que agora é meu delírio, poluente do meu vazio, pertencente ao meu desejo.


(Em 03 de outubro de 2010)

Goma 20



Tum-tum-tin-tin. Tic-tac, toc-toc. Chuá-chuá-chiou. O meu coração tem todos os silêncios mais gritantes no fim do dia. E eu quero que alguém venha me buscar em um disco voador e me leve até um sorvete de limão ou em um passeio pelas estrelas. Podem ser as do cinema francês. Quando o tempo passa fica mais fácil esquecer. Dá prá se despedir de alguma alegria e também deixar de lamentar. Se tudo pode acontecer, então por que é que o nada nunca acontece? Os meus cabelos agora são vermelhos. Da cor rouge viva de sirene de ambulância, de cereja em conserva. Queria que durasse prá sempre. Socorro! Estamos com as estrelas... e me perdi. Preciso de qualquer coisa que se sinta. Mãos dadas. Solte apenas prá o sorvete de limão. Estou apaixonada essa vida inteira. “Nós dois, um a um, em duo”. O meu pensamento às vezes duvida do que eu penso. Longe daqui, eu sou bem livre. Longe de mim eu vivo no espaço sideral. Vivo à espera de acalmar a minha pulsação. Nilton diz que eu preciso rezar. Ele está certo. Leo diz que preciso me cuidar. Ele está certo. Lucas diz prá eu ouvir outra música. Ele está certo. Minha mãe pede prá eu ser feliz. Ela está certa. Enquanto eu amar, eu dou amor. Estou certa. Tudo parece bom com já é. Não tenho ninguém aqui. Nem sorvete de limão. Mas tenho estrelas e continuo me perdendo, até me encontrar.

(Em 22 de agosto de 2010)

Goma 18


Durante muito tempo acreditei que jamais aceitaria grandes mudanças novamente. Mudanças de espaço e de ar. Mudanças de rota e de teto. Mudanças mundanas e nem tão profanas. Não sei por quanto tempo tudo isso será estranheza. Não sei, na verdade, nenhuma certeza. Mas temo que o medo possa engolir meu verso, meu canto, meu gosto. Ainda preciso me encontrar, aceitar meu pranto, entender meu sopro, digerir minha sede. Eu não me sinto suportável, nem conheço meus contornos. Até acho que eu ensaio a minha cegueira... porque me perco do meu rosto tão facilmente quanto o sangue que escorreu da mão de Leo ontem à noite – enquanto ele lavava uma lâmina afiada, displicentemente, em sua face mais perigosa. E sem perguntar “cara ou coroa?”, eu aposto comigo mesma que a perda do tino é o melhor encanto. Eu não quero nada além da correria insana dos dias, e que eu os possa aproveitar, como se estivesse indiciada e, finalmente, condenada a viver feliz.

- Moro em uma kitnete a 80m da Unicamp. Durmo em lençóis vermelhos. Fumo meus cigarros do outro lado da janela. Cozinho macarrão com salsichas. Leio e escrevo mesmo sem querer, sem tentar, sem conseguir. Estou bem. Me sinto quem.


(Em 01 de agosto de 2010)

Goma 19


A minha presença em frente ao espelho quase 3 X 4 do meu quarto coagula bem as saudades todas que tenho sentido. São as mais intensas, as mais caídas, as mais remotas e as mais recentes. Enquanto a madrugada chegava neste fim de semana em São Paulo, eu via através da névoa enfumaçada da sacada do apartamento do sétimo andar, o novesfora da minha vida, que parece querer recomeçar todo dia. Não sei se eu queria que essa madrugada fosse eterna ou que logo o Sol chegasse. Eu conheci de novo as minhas verdades de criança. E li nos olhos da pequena as alegrias da simplicidade. E comunguei das brincadeiras e me enchi de paz - uma paz que chegou a me inquietar. Chorei e pensei estar abandonada. Sonhei com feijão – o que Fabíola cozinhava à meia-noite. Acordei perto de meio-dia e quis o cafuné de Leo. Lavei roupas e contornei as sobrancelhas invejáveis de Luisa. Li alguma coisa sobre as fórmulas de Maingueneau, assisti mais uma vez “Foucault por lui même” – e tentei melhorar meu francês. Ouvi “Lady Madonna” e quis roteirizar um curta metragem. Pensei em meus novos caminhos e desejei, como nunca, que se tornem reais... e coloridos. Ainda me lembro do casal que conheci na casa de Pedro. Estão juntos há 20 anos e em seu convite de casamento a mais curiosa das escrituras: ela, com seu nome de batismo e ele, com o apelido sublinhado por “in memorian”. Nada tão apropriado quanto morrer para renascer! Talvez ao invés da produção cinematográfica eu me debruce sobre uma nova canção. De fato é inspirador. E ainda que não seja, como argumentava o professor na última aula, a minha alma me obriga a escrever. É o meu trabalho – é ele que me deixa afastar de mim o Thanatos do desespero. O sorriso de Lucas me faz muita falta. Em todas as horas. O carinho que não tenho tido das minhas princesas dog – Miucha, Mel, Lala, Nina – e do baby dog Ringo, me deixa rouca, me empalidece as bochechas. A distância das brincadeiras incansáveis e do dengo cheiroso e sem fim da minha mãe me torna tão menor, murcha o girassol do meu olho maduro. Saudade é mesmo uma palavra triste... Bem menos triste é solidão – essa que eu pareço não conhecer. Tenho gostado da minha companhia. E vou comigo agora retirar a roupa seca do varal. E fazer um capuccino para comer com bolo de pamonha. E olhar de novo o meu retrato vivo no 3 X 4 do meu quarto...


(Em 10 de agosto de 2010)

Goma 17


Estive em lugar de origem. Um lugar da minha memória. Foi revigorante, mas dilacerador. Não me sinto pronta para as perdas, tive certeza. Também não me sinto tão apta para ganhos. Sofro de uma síndrome metabólica emocional e tenho dificuldades para digestão de momentos, encontros, passagens, estações e, inclusive, olhares. Principalmente os oblíquos. E os “gordos”. Minhas impressões se confundem com certezas e não alcanço disfarces possíveis para os desconsertos. Tenho voltado à minha fase rock’n’roll e até retirei os coturnos pretos de couro velho do armário. Tenho falado palavrões e sido agressiva. Tenho me defendido. O doce anjo das memórias alheias se transveste em rebeldia, mais uma vez. Agora, sem meias coloridas. Os cabelos estão mais compridos e desconexos. Me caem bem, acho. Não gosto de referências. Meu nome não me soa bem. Meu exemplo, também não. Menos ainda os modos como traduzem minha (falta) de compostura ou “irreverência” – como ouvi dia desses aí. A minha vontade de ser fullgas, evaporante, fluida, microscópica está em alta, altíssima. As conveniências me irritam. As inconveniências ainda mais. Não sou alguém recomendável para se procurar quando se deseja um sorriso. Sou quem busca o mundo dos silêncios e da extinção dos olhares oblíquos. Quero um fim e um início. Do meio me abstenho e durmo. Sem pernas, nem braços. Sem corpo. Só de alma, verde como quem precisa crescer, mas como quem só sabe sentir. Quero ser clorofila.


(Em 29 de maio de 2010)

Goma 16


Estive viajando. Me cansei bastante pelas extremidades e pelas tabelas. O recheio de tudo, na verdade, tornou o cansaço doce e o sono mais profundo – como aquele dos justos. João Pessoa é uma cidade encantadora. Uma maquete, como a que fazíamos nos tempos de infância no colégio. Nunca quis ser arquiteta ou engenheira. Nem pedreira ou pintora de paredes. Mas se pensasse em construir uma cidade, não seria Brasília, seria João Pessoa, inclusive com suas pessoas, adoráveis, quentes, sorridentes, misturadas – tal qual sua culinária – esta, confesso, para mim, quase inadaptável. Miscelâneas não são muito o meu forte, a não ser quando se trata de cores de roupas... Uma vez minha mãe me disse que nem todo dia é carnaval. Talvez eu pense nisso porque eu sempre me sinto triste quando ele chega. E todo dia a tristeza vem me ver mesmo... todo dia é carnaval em minha vida. Não tive tantos dias de carnaval em João Pessoa. Ao contrário, estive feliz, de fato. Nilton me fez sorrir, como os pessoenses. Até quis comer pimenta como chocolate. Foi incrível me sentir pertencente, importante, agregada. Posso justificar isso com mais uma pérola reproduzida por minha mãe: “...nas costas de calango lagartixa bebe água”. A celebridade à milaneZa me tornou uma também. Quase paguei excesso de bagagem por causa dos presentes tantos que trouxe de lá. Nunca tinha visto disso tão de perto: quilos de gentileza, com toque de cor, leveza, calor. Um pôr do Sol na praia do Jacaré ao som saxofoneado que entoava o Bolero de Ravel. Lá vinha, se equilibrando em um barquinho, o Jurandir do Sax. Passando em frente à luz escurecendo. Não dava prá saber quem era a estrela daquilo ali. Eu tinha duas câmeras nas mãos, mas o registro principal ficou na saudade. Eu tinha cansaço, incômodo dos pontos de uma cirurgia, vontade de chegar em casa, abraçar o namorado, brincar com os cachorros. Mas o que sobrava era a grandiosidade do momento, o sabor do cumprimento de um acordo – tanto profissional quanto fraterno, o desejo de que existam outras chances de não ter a tristeza que tanto me vem em meus repetitivos dias de carnaval. O que restou de toda a viagem é o que ainda me engole hoje... e que me parece uma certeza de que quero ficar... ficar com a vida.


(Em 15 de maio de 2010)

Goma 15


Não tem jeito. Sou mesmo uma bossanovista de carteirinha. Em todo o meu tempo, remoto e cotidiano, tenho sofrido daquelas crises de uso e abuso dessa química sonora. Com o mesmo affair que tenho com o rock’n’roll, dos cigarros e do vinho seco (blanc), da batida rasgada e do compasso marcado, de quatro em quatro cardíacos pontos, me norteio e me centralizo. Jazzista e rockeira progressiva. Mas antes, bossanovista. De entrega e abandono. E mesmo solitária, pertenço. Sinto a força e a ferida. Eu e os cinco buracos da minha cabeça. Como a que sente o ápice do transe, o céu e o inferno e o paraíso, enfim. Na cama, no chão, de pés, descalços. A bossa nova, admito, me apossa. Como nada e nem ninguém. São os tambores, acho. Pode me chamar, me delatar, me confundir. Mas disso eu não me canso de viver. Ai, quem me dera ir-me com meu piano e a bossa nova prá algum lugar, sem precisar dizer que quero ter essa pretensão de não querer nada, nada não. Tudo seria compensatório e rasgando o coração eu não teria medo de sofrer. Assim eu até acredito que “é melhor ser alegre que ser triste”. Eu poria um pouco só de amor em minhas cadências e talvez eu levasse, sim, um pouco de tristeza prá compor um samba... saravá! Pediria bênção ao Vinícius, aquele amigo do cachorro engarrafado. E também ao Jobim com suas teclas tão cintilantes. Pediria bênção prá viver. Neste exato momento até penso em me decidir por ela, pela vida... e pela beleza, pela sabedoria. E (re)começaria. E (re)nasceria mais vezes prá sofrer de alegria. Minha alma é negra e vem do gueto. Dos tambores de Angola. Das argolas de um tronco. Da prisão de um espelho. Das águas doces de um choro copioso. De um Sol que arde ouvindo as ondas de um chamado. E mesmo solitária eu encontraria meu par e seríamos tal como somos, dançantes no quaternário sinatriano, com a barba de molho e o corpo na rede. Nem baião, nem marchinha, nem samba. Nem jazz ou melodia erudita. Bossa Nova. Em suas origens e visitações, em suas rimas e transgressões. De toda essa mescla e sua regência. Inda vou ser tudo isso em completude. Em voz, em mãos. E vocês podem pagar prá ver, ouvir e par(t)ir... como quiserem.


(Em 03 de abril de 2010)

Goma 14


Como é que se põe os pés no chão? Como se alcança uma só cor do arco-íris se a aposta em tantos outros desejos abre um prisma multicolor de escolhas que, por si, não se desejam apagar? Eu quero tanto ou quero nada? Meu soluço de agonia é pela invasão de ambigüidades internas brutais, que me conduzem a pensar n’algumas das minhas personalidades... Antes que (me ou se) perguntem, não, não tendo àqueles distúrbios de múltipla personalidade. Mas (re)pensando a psique descrita por Jung – de cujas idéias não sou, nem de longe, adepta – personas são instituídas como máscaras que facilitam convívios, instituem funções, subjetivam pessoas. Mas e o que há por trás delas? Sim, claro... os desejos – recalcados, reprimidos, sublimados, pulsantes... sombrios. São as sombras dos algos que desejam emergir. Aqui, em mim, há tantos feixes que apontam para ordens... mas há muitos mais que se prezam às desordens. E estas não são corruptivas (ou corruptíveis), mas libertárias, plenas e, por que não dizê-las, mortais, no sentido mesmo de um (suposto) fim. Estou tão cansada! Cansada de ser minha própria vítima, de sufocar minhas tantas sombras, de calar minhas personas, de servir a simetrias. Me olho no espelho e leio os lábios dela - a mulher do reflexo, uma cópia persona... Posso ouvi-la e acho que tenho razão... o que preciso é de força para personificar minha fraqueza e o que desejo é coragem... prá autorizar minha covardia.


(Em 26 de março de 2010)


Goma 13

Alguém vende reticências por aí? Simplesmente eu as vanglorio e as minhas estão escassas... Ah, quer dizer então que é chegada a hora dos pontos finais? Não, não... prá mim esses não tem tanta funcionalidade quando o assunto é pensar, pensar, pensar, até secar de tanto calor na sanidade... “(...) minha alegria é triste (...)”... E a tristeza tem mesmo vindo me ver, como cantou Bethânia ontem aqui em minha radiola... Até me sentei à mesa da cozinha prá brindar com ela a nossa parceria... Tomamos um vinho branco e seco, remexendo juntas um molho de macarronada cheio de manjericão, em silêncio, claro, como bem fazem os filhos da melancolia. Em Nova Iorque o acúmulo de lixo mais extraordinário é de livros usados, esquecidos, deixados prá trás. Em mim, esse acúmulo mais denso é o de proezas poéticas não realizadas. Ontem mudei o piano de posição. Só assim consigo tocá-lo... empurrando-o prá lá e prá cá e limpando a poeira, sem sonoridade. Quanto desperdício, diria quem me ama! O quê? O primeiro volume de “Alice no país das maravilhas”no meio do lixo novaiorquino ou os meus dedos estáticos com as poloneses de Chopin gaguejantes? Não sei mais... nem tocar com primazia e nem apreciar tudo o que tenho com alegria. Tudo bem, deixa estar, afinal, a tristeza não vem todos os dias prá uma visita... Mas sai que preciso ao menos de seus sinais, mesmo distantes, prá que não me faltem as reticências nessa alma de Oxum, ora revolta ora serena, camuflada e espelhante, meio rasa e um tanto profunda.


(Em 22 de março de 2010)

Goma 12


Há pelo menos dois dias tenho ouvido umas coisas tão curiosas sobre mim... Vou reproduzir aqui, prá tornar essa goma mais interessante prá nós:

“Ah, Ceci... mas você é quase um traveco!” – Hallana, em uma conversa sobre suas amizades exclusivamente gays e respondendo ao meu protesto de não fazer parte desses entornos;

“Você é um gummy, meu amor...” – Namorado, admirando minha cara bochechuda, parecida com a dos Ursinhos Gummy, aqueles do desenho animado;

“Ceci é uma Barbie arrependida com essa voz quando está no telefone.” – Lucas em coro com todo mundo em volta, nem sei por quê, nem onde, nem quando... (rsrs);

“Não, ela é um bebê gigante, não é?” – Uma senhora na fila do Detran, olhando fixamente prá mim por mais de 10 minutos até não se agüentar mais, apertar meu braço e dizer, em alto, altíssimo tom, essa pérola aí.

“...até parece que você não é um scarpin disfarçado!” – Nilton, mon cher professeur, em momento crítico de desfile fashion da academia científica, enquanto conversávamos sobre os moldes e molduras e estigmas e tudo mais que nos enquadra nos perfis das expectativas medíocres massificadas;

Hoje encontrei Sara, a amizade mais feliz e revigorante dos últimos tempos. Isso, sim, é amizade prá mais de uma vida... Hoje também estive chata, com uma dor também chata. Dor nas costas. Ganhei uma cartela de Dorflex, mas acho que preciso de mais duas... Estou bem, mas gostaria de estar melhor. Amanhã começo o balé e na quinta-feira tenho aulas de francês. Chic chiquê, não? Adoooooooooro! E agora me lembro do encontro no Café Society no sábado, com meu amor e meus amores, incluindo meu pai. Incrível mesmo é pensar que quero muito acreditar que em um ano estarei em um outro lado... do mundo, dos sonhos, dos planos, dos avessos, dos possíveis... Eu quero... muito!


(Em 15 de março de 2010)

Goma 10


Goma com sabor de Carnaval. Depois de ver bonecos gigantes na pracinha de Rio de Contas, chorar de tanto rir das besteiras encantadoras do meu pai, dormir congelando, namorando e roncando no ar condicionado do quarto emprestado de Marcelão, voar num Adventure Locker rumo a uma fazenda sem graça nenhuma e voltar pra casa cheia de sono e barriga cheia de alegria, o sabor é esse mesmo: colorido, musical, saltitante... O fato é que agora tenho de novo duas dúzias de leituras prá fazer e produções densas prá dar conta, pay per view do BBB, preguiça prá conter e esteira prá correr. Tem também carambolas prá colher e receita nova de macarronada light. Logo mais tem formatura da cunhada prá prestigiar, figurino Minas Cult prá lançar e chá mate prá equilibrar. Aqui em casa já fazem campanha antifumo e quase já não tenho mais prá onde correr. O banho nas três cachorrinhas me deu dor nas costas e o dorflex de depois foi mais que duas doses de lexotan. Alguém disse no twitter que não vê graça nos desfiles das escolas de samba. Pois eu devo dizer: adoro horrores! E, claro, vou parar tudo prá assistir a votação de hoje à tarde. Com tanta coisa prá viver, eu não deixo mesmo é de pensar no momento próximo de rever Verônica, com seu filhote Pedro, depois de alguns anos distante. Eu sempre falo de saudades, porque são muito difíceis de sentir e mais ainda de matar, mesmo tendo que alimentar para que momentos especiais jamais deixem de existir. Pois... tenho essas saudades prá sentir, matar, fazer crescer e renascer prá sempre nesse meu peito tão intenso de verdades construídas, próximas, póstumas, tórridas, evocativas, sólidas, silenciosas, libertadoras.


(Em 17 de fevereiro de 2010)

Goma 11

Outro dia alguém me disse que sou autêntica. Aí parei prá pensar um pouco nessa minha legitimidade de ser quem sou e também refletir acerca dos bônus e ônus de não se permitir adulterar as verdades e as composições. Na verdade, ganhos vêm e lágrimas também, seja um alguém fidedigno ou corrompido por mesmices. Talvez seja melhor assumir-se como piruá e não pipocar, como sugerem as expectativas. Pedro Bial orientou os confinados do Big Brother a se rebentar diante do calor, a se unirem à massa comum da delícia saltitante, componente quase sempre secundário. Dias depois desse discurso, ouvi o Di contar sobre uma conversa com Purki a respeito de abrir mão de ser pipoca e se manter inalterado em sua própria verdade. É exatamente o que penso que sinto e o que sinto que desejo, ainda que não saiba ao certo que tenho essa certeza como evidente. O que quero dizer é que essa minha autenticidade, reconhecida e comentada, é toda a parte de mim que ponho à mostra, como reflexo dos meus feixes de intensidade e cor, mesmo rasos ou monocromáticos. Não estou à venda, mas me ponho às claras, como uma obra de arte de minha própria autoria, cheia de veracidade, em uma paleta de sombras e perspectivas, absorvendo e refletindo freqüências, misturas e combinações em uma marca distintiva e simbólica que eu também vejo quando olho no espelho.


(Em 21 de fevereiro de 2010)

Goma 9


Pareço estar quase convicta de que não vim ao mundo prá pouco ou quase nada. Sabe aquele reboliço interior que a gente tem de vez em quando? É mesmo como uma urticária que irrita, pinica e debilita. Ando assim há dias. Aliás, não ando e nem me mexo há dias. Há tantas dúvidas explodindo sem socorro aparente! E fuçar atrás disso não me tem sido muito atrativo. A resposta a isso como socorro, é claro, eu também não tenho. Mas tenho tido vontades. Isso me parece um bom começo. Assisti “O cavaleiro templário”. Gostei. Nem cochilei. Acho que é um sinal do efeito das férias e do desemprego, gerador do meu ócio recente e pouco criativo. Minhas novas metas têm um gosto que não conheço. Ainda não retirei o embrulho e tenho medo de o sabor não ser o doce tutti-frutti. Hoje, depois de seis horas estudando, senti dor de cabeça. Deve ter sido a atrofia rompida dos neurônios. Tomei café e comi quatro bananas nanicas. Não almocei e agora penso em um cachorro-quente. Daqui a pouco o motociclista vai buzinar na porta de casa e eu vou engolir 200 calorias. Tudo bem se amanhã a caminhada me seduzir... Por falar em amanhã, tenho prazos a cumprir. É dia de apresentar textos, vídeos e análises – a história de viver mestrado é pura malhação. Por isso minha cabeça doeu: o relax acabou e retornar aos exercícios cognitivos fez calos. Estou bem. Pensando em controlar impulsos e compulsões. Tentando agilizar feitos e fatos. Fora as dúzias de livros em que remexi hoje, assisti o pay per view do Big Brother, tomei banho com ervas e canela e quis mexer na cor do cabelo (acho que vou ficar ruiva, ruiva cereja, daqui um mês). Ai, o cachorro-quente chegou e meu namorado foi pegar. Agora vou ali, engordar a barriga prá depois conseguir engordar, mais um pouco, o pensamento. Até!


(Em 01 de fevereiro de 2010)

Goma 8


Por muito tempo me julguei menor. De tão menor, valsando uma valsa triste, sempre adorei prefixos de baixa auto-estima, me compondo incapaz, insensata, infeliz. Morrer um pouco a cada dia nunca me fez renascer. Eu quis, até então, gostar da vida sem sentir dor, ainda sabendo que essa receita não surte efeito prá um dia poder dizer que se foi feliz. Tenho mesmo o maior medo da derrota. Assim me nego e suplico desistir logo, rápido, antes que seja tarde... Hoje, ao menos hoje, pensei em me contrariar. Conversei por mais de meia hora com meu orientador de mestrado e mais recente amigo em potencial conquistado junto com a aprovação na universidade. E não foi o que chegou aos meus ouvidos, mas o que neles se acomodou, ressoando, martelando, mastigando – como essa goma – novos rompimentos, prá conseguir alimentar travessuras. Eu preciso disso, e como! E me decidi pela gostosura de tentar. Tive um bom fim de semana, com abraços cheios de saudades, no tal casório de que tanto falei nas últimas composições postadas aqui. Me vesti com estampa de cobra, com sapatos altos – que me deixaram calos, usei batom vermelho e gostei do que o espelho me disse (e o namorado também!). Senti falta de Marco no meio de tudo e me cansei um pouco dos saltos. Babei pela beleza da noiva e o sorriso enorme do noivo. Ganhei um adereço prá cabeça, com chifres luminosos de capeta. Quis pular na piscina por sobre as rosas brancas flutuantes da decoração. No fim, os maiores desejos foram massagem, banho quente e um pouco de chá, com o coração contente e a barriga decadente. Ainda sobrou insônia prá assistir TV e fumar mais um cigarro antes de me deitar. Os dias que se seguiram trouxeram pontadas de reflexão, com culminância hoje, depois do telefonema dito aí em cima. Enfim, dobrei a esquina da sala e cheguei ali, de onde vejo, daqui, os aparelhos de ginástica. E deu certo! Foi o começo de mais um recomeço, dessa vez com promessa de êxito. Apareceu um filhote de gato na escada de fora. Tem uma sinfonia de latidos, sem sincronia, de quatro focinhos nervosos. Como não podia ser diferente, minha mãe levou ração prá o felino, com dó e chamego. Essas doações aí, por enquanto, estou dispensando. Preciso e quero ficar só... bem e só. Sei que “sempre não é todo dia”.


(Em 31 de janeiro de 2010)

Goma 7


Embora eu tenha acordado um pouco cansada, dolorida e com uma afta grande sob a língua, consigo sentir um pouco mais de paz aqui dentro, no meio dessa bagunça emocional costumeira. Que bonitinho era a Fernanda Takai cantando “...tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo...”. Disso aí fico com a última das virtudes, porque a mente é mesmo inquieta e a espinha, cifótica. Continuo sedentária, mesmo pensando, repetidamente, em utilizar aqueles aparelhos de ginástica da sala da minha casa. A mente, sem pernas... e barriguda! Ao menos consigo movimentar alguma decisão. Sabe-se que tudo o que existe só o é quando sai do plano das idéias. Acho que vou conseguir. Acho, sim. Correr de novo e usar jeans com top justos. E dizer, como já foi: “...não, não aceito... não como doces, a não ser em fins de semana!”. Quanto controle! Preciso disso. E como! Não, não como, quero dizer... (rsrs). Tenho assistido o Big Brother Brasil por mais de cinco horas, todos os dias. Di César, Serginho, Uilliam e Cadu, além de Elenita – meus favoritos, nessa ordem. Claro que imagino o tempo inteiro como ou quem eu seria caso estivesse ali. E tenho que imaginar também qual daqueles poderia sentar-se comigo para umas sessões de terapia. Aí passo a não saber quem seria o terapeutizado ou o insano mental. Okey. Parei... parei de imaginar para passar a outro estágio: sentir. E foi muito especial passar algumas horas num calor infernal – ainda mais intenso que o habitual – no estúdio, ainda improvisado, de João Omar. Estive tímida, como afirmou Ricardo Lins. E assim ficou minha voz na gravação – contida, mas não ruim para o propósito. O tal momento vai ser reverberado no casamento de amanhã. Que susto... e agora? “Com que roupa eu vou? Com que roupa eu vou?”. Não posso abusar do amarelo, prá não combinar demais com a decoração, me pediu o noivo. Okey, devo me movimentar, por causa das obrigações urgentíssimas da tarde: renovar a CNH vencida; dar queixa da identidade rara, quase relíquia, roubada/ perdida/ seqüestrada da minha tia; pegar na ótica os óculos do meu namorado lindo, recém mastigados pela baby dog Miucha, agora restaurados, espero; dar entrada em meu seguro desemprego (sim, estou quase totalmente desempregada!); montar meu visú – e do namorado lindo – p’rá o casório, com riscos de precisar de mais detalhes... vou comprar, uêba! – continuo uma socialista de mercado; levar a lembrança dos noivos. Só. No final do dia, tenho certeza, vou querer o dengo mais carinhoso do mundo inteiro... com direito a pijaminhas fofos e lençóis – p’rá voltar ao BBB.


(Em 22 de janeiro de 2010)

Goma 6


Estive pensando como as nossas memórias são os constructos mais favoráveis aos movimentos de transformação e vida que temos. São como adubo ou chuva ou um novo abraço. Pelos três últimos dias tive provas reais disso tudo. Momentos vividos que são revividos tomam novas cores e ganham outra trilha sonora, deixando o passado com jeito daqueles presentes com embrulho e laçarote adoráveis! Caminhei com minha mãe voltando do dentista (já não trago mais no sorriso os metais apertados que ajeitavam meus dentes superiores) e o calor que incomodava tanto não foi tão difícil de suportar. E menos ainda aporrinhou quando paramos na esquina conhecidíssima onde se pode comer pastel de queijo com caldo de cana gelado. Me lembrei de ter sentado ali quando ainda nem era alfabetizada. Minha mãe olhou prá mim enquanto eu saboreava o pastel frito, gorduroso e delicioso e mandou essa: “...o mesmo pastel e as mesmas bochechas... e também a mesma franjinha nos cabelos...”. Eu sou mesmo as minhas verdades de criança... irremediavelmente. No dia que se seguiu, me sentei com Purki por algumas horas pensando em organizar as coisas do trabalho, quando, de repente, o assunto clicou o “rew” do controle remoto das lembranças e voltou até quando éramos tão diferentes que nem parecíamos com o que somos agora. Mas o agora fez o que passou se tornar bem leve, muito mais do que havia sido. Teóricos e filósofos, fotografias e pensamentos, convivências e documentos... estávamos os dois sem complicar nada do que fora tão difícil ontem. E por falar em ontem, a formatura de Breno me preencheu tanto a alma por ali, no meio dos amigos passados, que não pude não perceber que nada estava vencido ou estragado ou perdido. Um novo tempo sempre traz consigo uma nova luta prá fazer o que foi bom sobreviver. Eu vou ter muitas heranças... muitas! A fadiga de tudo nem conseguiu nos rondar... eu não precisei de socorro algum... de analgésico prá cólica ou de muita companhia prá dançar. Havia, prá mim, um som que batia junto com o do DJ: o do meu coração... feliz, feliz...! Agora quero descansar e deixar pousar com carinho esses sinais, assim, bem simples.


(Em 17 de janeiro de 2010)

Goma 5


Escrevo essa goma ganhando um cafuné. Estou sentada no chão da nova sala de TV da minha casa, ainda bagunçada, onde nunca nada quase funcionou desde que uma tia, que aqui dormia, morreu, há nove anos. Esse quarto se tornou uma espécie de guarda trecos... trecos, devo dizer, muito valiosos: livros, fotografias antigas, instrumentos musicais – o violino que era de João, o teclado que ganhei de mamãe quando comecei a reger um coral, o violão antes básico e que meu namorado regulou – além de bonecas que têm a minha idade e com as quais ainda não consigo exercitar o desapego. Roda um filme aqui no Cine Sky – o “Watchmen”, com super heróis aposentados e estranhos. Até tem um tal de Rorschach, estrela do tipo maluco que salva, claro, mas também mata. Os psicólogos de plantão podem imaginar porque ele tem esse codinome... Ele usa uma máscara que simula o psicodiagnóstico projetivo de Hermann Rorschach, com os clássicos borrões de tinta, se movendo no rosto assustadoramente. Meu sonho ter uma dessas! U-lá-lá! Há uma cena em que ele é preso e um psicólogo forense tenta aplicar sabe o quê? Ahhhh, o Rorschach... Imaginem só se isso ia dar certo? Que dó! Também tem, nesse filme, uma mulher linda, heroína, com um cabelão maravilhoso. O poder dela, com certeza, está aí, no jeito Sansão... Dá p’rá acreditar que o Nixon proibiu a atuação dos heróis? Que filme mais bestão... Mas é bonito, preciso assumir meu gosto...

Bem, mudo de assunto agora... O cafuné ainda está de pé. Leo continua concentrado no filme. Eu, na goma. Acho que não tenho mais o mesmo bumbum dos meus 15 anos p’rá ficar tanto tempo sentada no chão e ainda permanecer animadinha... Mexo p’rá lá, me conserto p’rá cá... Penso no cigarro que está na outra sala. Mas só de imaginar o movimento de dobrar joelhos, carregar o notebook e etc e tal, desisto. Vou aproveitar o lance e fazer redução de danos assim.

Amanhã volto a trabalhar. Oficialmente. Eu queria tanto ter férias! Como nos tempos em que eu assistia a todas as sessões da tarde, mesmo as repetidas, e me cansava de tanto descansar... Que saudade! Tudo bem. Eu cresci. Cresci? Cresci, certo? É... cresci. Mesmo que eu ainda admire cores bem coloridas, formas divertidas, histórias encantadas, ursos de pelúcia, meias listradas e sandálias de plástico. Acho que só sei viver assim... Vou além dessa incerteza quase certa... Só quero viver se for com as minhas verdades de criança... as minhas verdades dessa minha criança.


(Em 13 de janeiro de 2010)

Goma 4


Escrever o início dessa goma me exige dizer em que ela consiste (e seu conjunto, sua caixa, latinha, qualquer que seja seu envoltório recipiente), já que alguns têm me perguntado sobre. Pois bem... minhas gomas nada mais são que partes do meu diário de bordo. Estou à bordo dessa minha vida de angústias íntimas, mexidas, ora empapuçadas de cores, ora repleta de sombras, ou em um mix de pensamentos difusos, multivelozes, estranhamente passivos, nada pacíficos. Não posso reclamar de momentos como esse. Eu produzo muito bem quando me sinto mal, em antíteses frescas como algo diabolicamente puritano. Hoje fumei Malboro Light. De fato, gosto mais dos cigarros L.A. mentolados com cereja. Sou doce... eles combinam mais comigo. Também troquei o perfume. De um com aroma doce para outro um tanto mais doce. A mudança foi boa para o bolso... de 190 pilas para 147 – o restante pode ser investido em outros apetrechos glicêmicos, eu diria. Meu orientador deu notícias do Rio de Janeiro. E a culpa por ter tomado mais Sol do que podia – fato que me fez cancelar a viagem – se duplicou. Pelo menos ele continua adorável e ainda põe fé em mim, acho. O carro foi lavado – meu namorado lindo fez isso! Desmontei parte do guarda-roupa. Algumas peças foram expulsas. Outras recicladas. A maioria continuou como estava... empilhada em montes desnecessários e maravilhosos! Ainda me sinto uma socialista consumista. Tenho a alma colonizada... não vou me livrar tão cedo da Coca-Cola, do Mc Donald’s, da Melissa ou da Cavalera. Yes, adoro purpurinas! E bananas também... Falei com Solange pelo telefone e senti saudades fortes das pequenas que tanto amo. Minha mãe não pára mais de pintar sobre tecidos. Já ganhei duas camisetas e duas almofadas... com sapos e vacas sorridentes. Amei! E quero mais...!!! Comprei duas câmeras Lomo... e realizei um sonho! Uhhh... sempre quis uma Holga daquelas clássicas... Purki vai morrer quando souber! Outro que vai morrer (de novo) é Michel Foucault. Às vezes quero trucidá-lo... Mas por enquanto só vou fazê-lo levantar da tumba prá me explicar só um pouquinho de tudo o que ele quis dizer com tudo o que disse. Depois posso devolvê-lo... Ai, minha cachola confusa! Fico maluca com tudo isso tão denso, profundo, estupendo, brilhante! Fã número 1 a moçoila aqui, deu prá sentir, né? E eu vou parando essa goma logo, antes que a bola que se possa fazer dela me leve alto demais. Vou prá o banho com a Bebel Gilberto cantando “Chica Chica Boom Chic” prá mim. Tá pensando? “Eu sou a filha da Chiquita Bacana”, meu irmão!

(Em 10 de janeiro de 2010)

Goma 3


Essa goma era p’rá ter sido mascada ontem, mas a energia elétrica faltou em minha casa por mais de três horas – justamente quando eu queria um banho quente, um cochilo com ventilador, algumas páginas de um livro e um post aqui no Orkut. A verdade é que o banho foi frio, o cochilo suado, o livro sonhado e o post, atrasado... Tudo bem... Ficou p’rá hoje. E ficou também, da herança de ontem, uma dor de cabeça absurdíssima e o resto da insolação na perna. A queimadura aconteceu na praia da Tiririca. Gente bonita, coco gelado, mar gostosura. O protetor solar? Não, eu não esqueci. A melanina que se esqueceu de existir em mim... Eu agüento. Não é a terceira vez que acontece... é a quarta mesmo. O dia na praia da Tiririca e eu volto, de fato, uma tiririca. Não paro de lembrar do sorriso de Leo. É o namorado que eu sempre quis dizendo me amar como eu sempre quis. Não esqueço também o abraço de Marco, Purki e Di – eles são lindos... e meus! Menos ainda eu podia esquecer que Luki não estava lá, com sua loirice escandalosa. Mas estavam Caio, com suas piadas catedráticas, e Juli, com seu jeito quase meigo de mandar alguém tomar naquele lugar. Lembranças são mecanismos incríveis! São reviventes. São reviravoltos. São um “de novo” muito bom! E eu fazia esse exercício de rememorar durante a manhã em que passei na cama, curando o cansaço que ainda existe e a dor de cabeça que não desiste. O telefone tocou. Marcinha, trazendo lembrancinha da viagem de fim de ano. Amei! Amo ser lembrada... Atendi, conversei, bocejei, sorri, desliguei e voltei a dormir. O telefone tocou outra vez. Raquel Lins, a noiva de janeiro, dona da canção feita pelo futuro marido quando ainda era quase futuro namorado. Eu vou cantá-la em seu casamento. Ela quase me convenceu disso... Ainda há acertos. Cobrarei um caminhão de brigadeiros e uma piscina de Coca Zero. Meu irmão – a outra metade da dupla dos tempos Sandy e Junior – não quer ao vivo. Enfim somos quase Roupa Nova com play back super bacana. Yes, vamos à gravadora...! E o noivo agora quer que eu duble... Agora me digam como eu não voltaria a dormir! Fui...


(Em 05 de janeiro de 2010)

Goma 2


É certo que a última goma não tem mais sabor, nem maciez, nem capacidade de embolar – ou embalar – ninguém, afinal, há mais de uma semana estavam aqui escritos os seus ingredientes agora já vencidos. Pois lanço uma nova goma, de um novo ano, para novos motivos e conceitos, nada estáticos, nada mortos. Claro, vou precisar de algumas séries pra relatar todo o sentimento da vivência dos oito dias em que estive longe do meu conforto pessoal, das minhas mães, das minhas filhotas caninas, da minha cama e desse instrumento que tenho aqui nas mãos, no qual produzo essas minhas gomas. Começo dizendo que minha paciência ainda não voltou ao seu estado comum... até acho que perdeu sua resiliência. Devo admitir que o cansaço mental ainda cascudeia meu espírito e que necessito de muitas auto-análises, meditação, yoga, chá e chorumelas para me redimir comigo mesma... Não posso deixar de antecipar que voltei p’rá minha rotina com a perna sofrendo de ensolação e com a coluna do namorado traumatizada, por carregar minhas malas recheadas dos exageros dos quais ainda não consigo me livrar. A verdade é que assim, a rotina ainda não se vestiu com a própria roupa. É um tal de Bepantol aqui, Gelol ali, analgesia com água, com sono, com carinho... nada mal, apesar da dor, acreditem. As cachorrinhas ficaram bem felizes ao nos verem. Mamãe não gostou da minha perna, mas adorou o doce de jaca e a carne de sol de Itororó. Tia Zenita anda um pouco calada e eu sem muita vontade de fofocar. Ainda não avisei meu pai que estou de volta, mas avisei ao Nilton o cancelamento da viagem ao Rio de Janeiro. Será que sou forte? Nossa, como sofri com isso... minha bíblia agora é o Vigiar e Punir, não abro mão! Cheguei mesmo com saudade dos oito dias. Juliana também... pareço ter ganhado uma nova amizade... com direito a ovos fritos! Penso que sinto sede de alguma mudança. E tenho medo do que possa acontecer. Início de ano com pessimismo me soa melhor... E são essas só algumas impressões... uma delas é de que comecei essa Goma pelo final de tudo... Na verdade, só agora me dou conta de um início do fim de um início. E o resto do início desse fim fica prá mascar logo mais... Até!


(Em 03 de janeiro de 2010)

Goma 1


Não se pode negar... sorrir é um remédio muito potente. Ainda que muito cansada, consegui hoje, no fim da tarde, sublimar dor, impaciência, estafa e pessimismos com as gargalhadas trocadas no momento de confraternização com os amigos do trabalho. Foi incrível observar os discursos e declarações, ler as pessoas através dos abraços e presentes compartilhados, sentir a aura suave e doce dos (re)encontros. E no meio daquele divertido Inimigo Oculto – sim, sim, sim, onde os presentes sem remetente ou dono eram roubados a cada rodada – os sorrisos se tornavam inevitáveis e cada vez mais contagiantes, permitindo que qualquer sinal possível de hierarquia se dissolvesse. Consegui me esquecer até do Pet Shop que fez a tosa mais tosca desse mundo em uma das minhas meninas caninas. Ai, que dó... Ela se chama Mel, mas depois do corte absurdinho, ela parece ele. Quase chorei, quase me derreti na frente do veterinário cruel. Como eu sou sentimental! Certo, é isso... consegui esquecer disso e também do medo que senti por dois dias de ter perdido um cabo importantíssimo, caríssimo e nada acessível da câmera profissional que acabei de vender. Ótimo... Purki o encontrou e pude sorrir ainda mais frouxamente. Tudo foi tão bom! E ainda que eu tenha tido que dar a lembrancinha que tinha comprado pra Thay pendurar no carro azul pijama pra ela mesma poder participar do Inimigo Oculto – deu pra entender, né? – (e ela participou, depois de dez segundos emburradinha porque ninguém tinha lhe avisado sobre levar um presente), fiquei feliz, bem feliz... e acabei prometendo um outro igual, já que no fim das contas ela pegou um conjunto de canecas chiquérrimo! Mona esteve linda e Júlia, sua cria, ainda mais... e mais moderna também. Mais que eu...! Que saudade dos meus 16 anos... Como? Nem acredito que pensei isso... Okey. Passou... Saudade mesmo vou sentir desse momento. E vou pedir aos Anjos que me deixem aqui com os reflexos desses sorrisos todos... os meus e os deles... dos amigos – os meus... os meus amigos.


(Em 22 de dezembro de 2009)