domingo, 26 de abril de 2009

Quando irei acontecer?

Tudo existe à minha volta. E parece existir ainda mais nas minhas voltas. Não sei quando vou acontecer. Há muito tempo eu gostaria de aconter. Mas tenho pensado sobre o tempo e sobre ser intempestiva... Talvez toda a minha existência seja movediça e assim eu a tenho tornado ao longo desses últimos tempos em que eu só precisava ter sido intempestiva p'rá conseguir acontecer.
(...)
Não faço das minhas companhias a minha rede e não me separo de minha solidão nem mesmo à volta de quem mais amo. Aliás, o amor... esse é o único que me rende a alguma chance de acontecer. E com toda a obviedade da minha complexidade, eu torno este acontecimento teleológico, ao invés de fazê-lo antídoto à minha indolência.
(...)
Quando irei acontecer? No passado? Na sofreguidão? Na ignorância diante da potência de sorrir? De fato, eu não sei. E nem mesmo sei se já aconteci. Não consigo não utilizar negativas... e nem rascunho sem reticências. Preciso pensar em pontos finais... Preciso dormir um pouco a minha lembrança e a minha culpa. Preciso parar de precisar. E então acontecer...


sábado, 18 de abril de 2009

(Trans) vestir o ontem...

Eram onze ouvidos e uma boca. Ou praticamente isso, quando se percebeu a possibilidade de mudar o ontem. Mudar o ontem como se o passado vivido (ou comido) pudesse se (trans) vestir em outro, interrompendo a vivência (ou a digestão). Eis que os onze ouvidos se tornaram também bocas e também cabeças e possivelmente ecos. Ao menos o meu assim fluiu. E também fruiu. Sim, rompeu-se, perdeu-se, esvaziou-se como crendo e esperan(çan)do, de fato, viver, comer, voar noutra esfera passada. Como e quanto desejei este momento! E agora, noto-me a fome de engolir essa passagem para o novo ontem, o remédio para a dor, o esquecimento dos punháis e abismos a que eu mesma submeti minha própria alma.

Eis que Edith Piaf cantarola aqui em minha radiola cibernética e penso em fazer um coque nos cabelos, usar um vestido com rendas e sapatilhas de boneca. E talvez o último dos aperitivos que eu queira provar seja mesmo um futuro ferido pelo mesmo ontem, tão falido...


sábado, 11 de abril de 2009

Sorrindo em lágrimas

É claro que agora é de manhã. E é claro que nada está escuro. Tudo está como eu mesma diante de mim... em transparência...

Lágrimas pingam... e trafegam por um punhado de sorrisos meus...
Nenhuma sombra me move. Todo e qualquer ponto claro é que me faz caminhar...
Essas lágrimas me lavam o sorriso e me banham a vida que levo, que tenho, que sustento, que vivo...

É claro... agora é de manhã... está claro... e há núvens...

Sei que um beijo seu agora me aqueceria... e sei que meu sorriso em lágrimas se transmutaria em lágrimas a sorrir... Ser você é toda a minha razão de ser eu mesma... tão clara.

Tanto e tão pouco...

Não há lugar nenhum em mim em que não explodam sentimentos dúbios. Por todos os caminhos que eu venha a descobrir, definitivamente, não é o meu desejo encontrar mediocridades e olhares rasos.
Vou disfarçar, desmontar, carregar o meu mundo em embalagens de presente coloridas.
Vou ser cheia de mim e deixar fluir tudo o que sou eu.
Vou desfocar toda a confusão que existe dentro de mim e a máscara que, por vezes, me esconde, há de perecer. Mas não quero que apodreça. Só quero guardá-la, passar pela porta do quarto e tentar suportar minha face que ainda não invadi, não deixei deteriorar.