sábado, 18 de abril de 2009

(Trans) vestir o ontem...

Eram onze ouvidos e uma boca. Ou praticamente isso, quando se percebeu a possibilidade de mudar o ontem. Mudar o ontem como se o passado vivido (ou comido) pudesse se (trans) vestir em outro, interrompendo a vivência (ou a digestão). Eis que os onze ouvidos se tornaram também bocas e também cabeças e possivelmente ecos. Ao menos o meu assim fluiu. E também fruiu. Sim, rompeu-se, perdeu-se, esvaziou-se como crendo e esperan(çan)do, de fato, viver, comer, voar noutra esfera passada. Como e quanto desejei este momento! E agora, noto-me a fome de engolir essa passagem para o novo ontem, o remédio para a dor, o esquecimento dos punháis e abismos a que eu mesma submeti minha própria alma.

Eis que Edith Piaf cantarola aqui em minha radiola cibernética e penso em fazer um coque nos cabelos, usar um vestido com rendas e sapatilhas de boneca. E talvez o último dos aperitivos que eu queira provar seja mesmo um futuro ferido pelo mesmo ontem, tão falido...


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