segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sobre o desejo



Se o desejo produz, ele produz real. Se o desejo é produtor, só pode ser na realidade, e de realidade. O desejo é esse conjunto de sínteses passivas que maquinam os objetos parciais, os fluxos e os corpos, e que funcionam como unidades de produção. O real decorre dele, é o resultado das sínteses passivas do desejo como auto-produção do inconsciente. Ao desejo não falta nada, a ele não falta o seu objeto. [...] Não é o desejo que se escora nas necessidades, ao contrário, são as necessidades que derivam do desejo: elas são contra-produzidas no real que o desejo produz. A falta é um contra-efeito do desejo, é depositada, arrumada, vacuolizada no real natural e social. - Deleuze e Guattari, em O Anti-Édipo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da parte não-humana da subjetividade


Félix Guattari em "Caosmose: um novo paradigma estético" 

As condições de produção evocadas no esboço de redefinição do conceito de subjetividade implicam, conjuntamente, instâncias humanas inter-subjetivas, manifestadas pela linguagem, e instâncias sugestivas ou identificatórias concernentes à etologia, interações institucionais de diferentes naturezas, dispositivos maquínicos, tais como aqueles que recorrem ao trabalho com computador, Universos de referências incorporais, tais como aqueles relativos à música e às artes plásticas... Essa parte não humana pré-pessoal da subjetividade é essencial, já que é a partir dela que pode se desenvolver sua heterogênese. Deleuze e Foucault foram condenados pelo fato de enfatizarem uma parte não-humana da subjetividade, como se assumissem posições anti-humanistas! A questão não é essa, mas a da apreensão da existência de máquinas de subjetivação que não trabalham apenas no seio de ‘faculdades da alma’, de relações interpessoais ou nos complexos intra-familiares. A subjetividade não é fabricada apenas através das fases psicogenéticas da psicanálise ou dos ‘matemas do inconsciente’, mas também nas grandes máquinas sociais, mass-mediáticas, linguísticas, que que não podem ser qualificadas de humanas.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Customizando territórios


Quando se vive com muita intensidade tudo o que se passa, parece impraticável tornar menor qualquer coisa que já seja grande - ainda que signifique tão menos. Não sei o que acontece com as formas de pensar atuais. Na verdade, não as julgo como forma de pensar. Talvez sejam só maneiras peculiares de reproduzir. Por quase todos os cantos aos quais me atenho, só ouço ecos, meramente semelhantes, em tom e vibração. E quando se nota paisagem, as cores e formas também se mostram reconhecíveis. E só. Mas há de se experimentar, ainda assim. Produzindo desejo se pode recolorir os tracejos, reverberar outras sonoridades, remodelar formas. Ser maquinaria de movimentos em espaços habitados, mesmo inabitáveis - essa parece uma bela maneira de desejar - customizando territórios.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Retomadas


Decidi retomar a escrita no blog. Isso não tem ligação direta com o fluxo dos acontecimentos virtuais coletivos cada vez mais intenso, mas com linhas renovadas de escolhas em minha vida. É uma decisão não tão simples essa das retomadas. Mas a decisão está (re)tomada, mesmo que implique emergências, julgamentos, intranquilidades. A minha preocupação é com os bons encontros. Fazer esse retorno também implicou repensar a escrita. Não exatamente a sua expressão, mas a sua forma. Emprestando de Deleuze e Guattari, não um agenciar coletivo de enunciação, mas um maquínico dos corpos. A possibilidade dos meios parece me interessar bem mais nesse meu agora.

As Gomas, que foram minhas, aquelas tão autobiográficas, vou suspendê-las. Tenho outros desejos pra minhas narratividades. Sinto contentamento pelo desapego, de toda espécie. Os movimentos da alma me são mais atraentes...

Deixar explicativa essa retomada garante algum conforto. Por isso aí está a descrição da retomada. Essa já é um novo modo de parir meus novos modos. Estarão aqui, penso, diariamente, os tudos dos meus territórios, dos meus encontros, dos meus entrelaces e descaminhos. Dos meus tudos eu tentarei criar outros tudos que povoem outros... outros... outros... em retomadas renovadas, reconstruidas, recolocadas.

sábado, 23 de abril de 2011

...tomei uma pílula.


Muitos dias se passam e tanto se passa pelos meus dias. As luzes se acendem e se apagam nos prédios em meu entorno. O tempo inteiro as pessoas caminham muito e pouco se falam. Em Paris o que vejo é excesso de cigarros e falta de sorvetes. Apesar de bicicletas simpáticas rodarem seus cilindros pelas ruas sem Sol nem cor, a força dos metrôs corrompe qualquer idéia de ritmo saudável. Muito frio, pouca chuva. Queimadura pelo vento. Pele ressecada e ressequida. E o glamour. Nos cabelos, nos sapatos, nas feições sempre blasé da tipicidade francesa. Losers tocando "La vie en rose" pra conseguir seus trocados com cara das migalhas que os pombos procuram pelas praças das catedrais. Acho que, às vezes, não conseguia me sentir tão bem. Mas hoje tomei uma pílula. Já fazia tempo que isso não acontecia. E veio outro despertar. E um outro adormecer. Talvez se possa saber nais do que estou falando aqui: http://tomesuapilula.blogspot.com/ Agora pareço melhor. Posso adormecer e depois despertar.