quarta-feira, 14 de março de 2012

Dançando com o desejo


E quem foi que disse que desejo é prazer? Prazer pode ser uma manifestação ou uma expressão dos desejos que se agenciam, mas o prazer não faz ninguém dançar. O prazer pode refletir, espelhar, decalcar desejos, mas não é o seu cerne e nem a sua profundeza. Os desejos não existem sem agenciamentos, mas essa não é uma relação de causa e efeito, origem e fim. Quem dança com o desejo é o encontro. O encontro de agenciamentos. Agenciamentos de desejos. Há aí uma dança ética, onde a necessidade da natureza supera a conveniência da vontade, para lembrar Spinoza. Pois dancemos por entre, como meios de desejos, dancemos com eles, com todos esses agenciamentos. Nessa dança eclode o que se pode sentir como potência, e não simplesmente como um estado de afeto e de sentimento. Aí tudo estoura e tudo cria, tudo rompe e tudo renasce. Basta uma dança com o desejo e os passos se recompõem em uma nova criação, uma outra coreografia, de certo improvisada, mas, por isso mesmo, cheia de uma beleza nada estanque. 

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