O terapeuta (1941) - René Magritte
É
preciso colocar a existência como um problema na medida em que a existência não
é um dado natural – e nem sobrenatural. A natureza é a potência de criar
realidade. Se nós fazemos parte da própria natureza cuja natureza é criar
realidade, nós também somos parte dessa potência que cria realidade. Essa
realidade não só diz respeito ao mundo no qual existimos ou as relações dos homens
entre os outros homens e com a natureza, mas diz respeito ao encontro do homem
consigo próprio, criando a sua própria natureza como potência. Além disso, devemos crer no
acontecimento, no ato de existir. É preciso extrair da existência aquilo que ela
tem de necessário, aquilo que o acontecimento tem como potência eterna de
criação de realidade. O que nós fazemos com aquilo que nos acontece? Nós
investimos no poder ou na potência? Em um corpo organizado ou um corpo de
intensidade? É nesse ponto que se decide pela moral ou pela ética.
Essa fadiga que o mundo hoje nos proporciona com tanta
violência exige que pensemos novas formas de vida. A obtenção da liberdade diz respeito à articulação com o pensamento. Precisamos
entender que o poder nos separa do que podemos enquanto sujeitos livres. Quando
falamos em liberdade, falamos em pensamento. O pensar como ser e o ser como
agir. O pensar como dobrar-se, através das forças interiores sobre as capturas
que vem da normatividade dos poderes. É preciso fazer novas
formas de vida e novas linhas de percurso, novas essências e, sempre, bons
encontros. É preciso nos movimentar! É preciso transformar os nossos olhares
sobre tudo... assim se faz possível que esse tudo também seja,
consequentemente, transformado – porque quando você muda o modo de observar as coisas,
as coisas que você observa, naturalmente, mudam! É preciso pensar para ver diferente! Ver
diferente para mudar e fazer das nossas singularidades uma coincidência
com o que nos é comum!