sábado, 8 de junho de 2013

Sobre o veneno que é a fé


Não há dúvida de que a fé está entre as manifestações mais admiráveis que existem. Olhos brilhantes, semblantes concentrados, sorrisos suaves, lágrimas marcadas, palavras delicadamente recitadas, mãos unidas, ideais em comunhão. Mas a mim me parece também não haver nenhum fenômeno tão subjugador. É porque entendemos ser criaturas e, por isso mesmo, inferiores, passivos, secundários, que nos obrigamos à obediência. Em última instância, a consequência da fé é a nossa impotência. 

Não, eu não sou incrédula da existência de Deus. Mas não me permito mais ceder à captura dos religiosismos como quando mais jovem me permiti, como todos os dias a maioria da humanidade se permite. São elas, as institucionalizações da fé, as grandes vilãs nesse trabalho sutil de nos oferecer, em troca de paz, esperança ou um pedaço no céu, uma vida servil e oprimida. 

Acredito que um Deus do constrangimento não deve nos compor. Deus não precisa ser culpado de nossas misérias e nem responsável por nossas limitações. Não deveríamos querer um Deus que só se interessa por nossa sorte ou nosso castigo. "Eu acredito é no Deus de Spinoza", tal como afirmou Einstein certa feita. Um Deus-Natureza, um Deus-Substância, um Deus da negação da teleologia, do livre-arbítrio e do desinteresse. Esse não é capaz de nos transformar em um exército impotente, marchante conforme a ladainha do pecado ou da resignação. Eu acredito em um Deus com o qual compomos o aumento da nossa potência de agir e de pensar, e não em um Deus templário, impositivo e finalista. Esse é um Deus triste... e o meu é o da alegria!

Sim, estou afirmando que essa fé é miserável! Mais que isso, é venenosa! Ela nos diminui, nos adoece, nos mortifica. Eu quero a liberdade de compreender porque as coisas acontecem quando acontecem, e não a falácia de achar que posso escolher o que quiser quando me aprouver. Eu quero os meus afetos em abertura seja para o movimento ou para o repouso. Eu quero o meu desejo e a minha experiência, sem nenhum sentido de providência. Eu quero ser meu próprio antídoto no desfazimento de qualquer tristeza... 

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